não termina quando acaba...


Bem, meu ímpeto de comunicar comunicando, comunicólogo, faz com que eu venha até essa tela, esse parco pedaço de página em branco, e antecipo o episódio contando as cenas do próximo capítulo, a carta que será levada por um ser humano, vivente e pensante, funcionário dos correios e que nos últimos tempos entrega apenas contas a pagar ou intimações judiciais, comunicados institucionais de instituídos comunicantes. 

Eu não. Eu não sou fundado em pilares sólidos. Constituído, estabelecido, baseado predeterminante. Sou fruto da hora, do ponteiro dos minutos, o instante seguinte, do segundo adiante. Não sei como descrever o que sinto, ouvindo Pink Floyd – última música do negro lado da lua, Francis. The dark side
Será que esse negro lado que buscamos com medo encontra-lo? Encontraríamos alienígenas lunares ou o limite de nós mesmos, de tudo que criamos, tudo que destrói e o que destrói outra vez e eternamente reconstrói, restaura, renova, revigora, mas nunca recupera o tempo perdido. O lado negro de liames e ligações da gente eclipsado pelo astro rei do universo. Deus somos nós, eu, você, a natureza do que nunca foi cultural nem cultuado, senão na intimidade de príncipes e princesas do nosso próprio reino. Seria o nome do jogo? A luz se põe, o sol se esconde, a lua vem de quando em quando e as estrelas quando caem depõe contra nossa aflição um desejo pessoal, íntimo, último talvez, subjetivo. Sim, augúrios últimos na intenção de chegarmos a algum ponto e acertar, entremeios e no meio de ventos intergalácticos entrecortes o que será ou pode ser que seja como nunca foi antes. Uma ilusão.
Sigo sendo o mesmo outro que sou agora e que não é como terá sido antes. Conheço bem. Ter nascido me fez o que me faz querer o bem me quer que mal me diz. Contudo não maldigo o passado como calha o Tempo desde as primeiras civilizações, desde antes dos assírios e cro-magnons e a lucidez de Lucy. No céu com diamantes.
impressionante é ver o quanto não posso sem poesia, e o deslocamento de tantas avenidas e vielas coincidem no mesmo beco sem saída. Olham para si mesmas as mesmas indagações, frente a frente, vis a vis... E se tocam e trepam e brindam tacas e abraços, discordam, discutem e procuram abrigo quando, no fim das horas elas gozam e nunca chegam ao ermo esmo do conceito de um mesmo ciclo, no mesmo conjugativo termo comutativo. Declinam o mesmo verbo entretanto, e contudo, são milhares múltiplas tantos os vários mundos. A ironia socrática... Busca o céu, atinge o mar. Morre para renascer à luz do universo próprio. Indefiníveis somos,

Nice to meet you
Gustavo




Eu só queria dizer um breve adeus.  "(...) sentei em uma café chorando e escrevi para minha mãe (...)"
Adeus
com longos sapatos pretos
Adeus
corsetes sedutores e costeletas de aço
adeus
partido comunista e meia furada
Ó mãe
Adeus
com seis vaginas e olhos cheios de dentes e uma longa barba negra ao redor da vagina
Ó mãe
adeus
incapacidade ao piano de concerto ecoando três musicas que você conhecia com amantes ancestrais Clemente Wood Max Bodenheim meu pai
adeus
com seis cabelos pretos no cisto dp seio
com barriga caída
com seu medo de vó rastejando no horizonte
com seu olhar de desculpa
com seus olhar de mandolins podres
com seus braços de gordas varandas de Paterson
com suas coxas de políticas inevitáveis
com sua barriga de greves e chaminés
com seu queixo de Trotsky
com sua voz cantando para os trabalhadores quebrados apodrecidos
com seu nariz cheio de cascas e com seu nariz cheio do cheiro de picles de Newark
com seus olhos
com seus olhos de lágrimas da Rússia e da America
com seus olhos de tanques e lança chamas bombas atômicas e aviões de guerra
com seus olhos de porcelana falsa
com seus olhos de Tchecoslováquia atacada por robôs
com seus olhos de America caindo
Ó mãe ó mãe
com seus olhos de Vovó Rainey morrendo numa ambulância
com seus olhos de Tia Elanor
com seus olhos de Tio Max
com seus olhos de sua mãe nos filmes
com seus olhos de fracasso ao piano
com seus olhos sendo levado por policiais À ambulância no Bronx
com seus olhos seus olhos de loucura indo pra aula de pintura na escola noturna
com seus olhos mijando no parque
com seus olhos gritando no banheiro
com seus olhos sendo arrancados na mesa de operação
com seus olhos de pâncreas removido
com seus olhos de aborto
com seus olhos de operação de apêndice
com seus olhos de ovários removidos
com seus olhos de operações de femininas
com seus olhos de choque
com seus olhos de lobotomia
com seus olhos de derrame
com seus olhos de divórcio
com seus olhos sozinha
com seus olhos
com seus olhos
com sua morte cheia de flores
com sua orte da janela dourada de sol...
Allen Ginsberg

Estou tentando escrever, mas não consigo. Eu vou deitar e rolar, mas vou pensar em você. Eu vou pra outro lugar que ninguém pode ver. Quero tomar um Rivotril e tentar esquecer. Nem se o que está feito é de fato, ou foi só um delírio. Se fui eu mesmo que passei tanto tempo no escuro.
Eu levantei, ei, fechando mais um ciclo.   
Eu falei tantas vezes e voltei atrás.
Eu já briguei com a minha irmã e magoei os meus pais.
Eu já passei tanto sufoco.
Eu já sofri demais.
Eu já virei do avesso o meu DNA.
Eu já voltei a ser um bebezinho.
Eu já era um peso vivo.
Eu já estava morto.
Eu já sambei dobrado.
Eu já.
Eu já chorei como criança que perdeu a bico.
Eu já gritei, vociferei, quebrei, vendi, troquei, voltei, nem, mas é aqui que eu fico.
Eu já gemi de soluçar, eu já pedi arrego.
Eu já falei tantos ais...

Eu quero paz e nada mais, daqui pra frente o futuro.

homem


para aqueles que têm a missão de se libertar "os grilhões do dever" como uma primeira vitória no caminho para tornar-se homens livres.




Pedro,

Você que é um conhecedor das representações semióticas de Deleuze, em estágio avançado, saberá o que estou dizendo.
Passei um período de tempo sendo, o que Artaud chamou de “corpo sem órgãos”. Conceito... o que, afinal, é o conceito de um conceito?
O conceito é senão um signo algo que qualifica, sugere por sinais um sistema de representações múltiplas e nelas aponta, revela, declara, afirma outra apreciação da vida. O conceito de “um corpo sem órgãos” é um estagio de gravitação entre o poder dominador e/dominante do pensamento e a existência em outros planos. O ser em si mesmo como sujeito pensante.
Onde habitam as outras facetas da existência? Talvez não conheçamos realmente aquilo que abriga em si o verdadeiro conceito de existir, ser.

“Como? O homem seria tão-somente um equívoco de Deus?
Ou então seria Deus apenas um equivoco do homem?”¹


Acontece de sermos aquilo que não é. Aquilo que nos pensávamos ser. Acontece de nos tornarmos algo que, sem ver, que coexiste num plano que não se verifica in loco, mas abstratamente. Acabamos por não existir no plano de imanência, senão em outro platô que comporta a transmissão, a arena basilar de signos.
Paradoxalmente, além de não orgânico, o corpo sem órgãos é sagrado, mágico, espiritual, não existe corpo sem espírito, nem espírito sem corpo.
A “carne do espírito” princípio monista. unidade corpo/espírito que é um dos princípios da Etnocenologia. A concepção monista corpo/espírito pode levar a uma metafísica de sublime interpretação lógica.
veja, a metafísica é primordial para a concepção das ideias. As manifestações metafísicas se concebem como união e unidade do concreto com o abstrato, sendo uma prolongação ou ressonância recíproca da física. É uma prática monista, sem rupturas, como é a prática de nossa poética invisível.
Esta dimensão metafísica transcende o fato de ser somente um corpo, colocando-se diretamente em contato com o espírito e com o inconsciente.


“Os poetas são imprudentes com as próprias aventuras — desfrutam-nas.”²


Tornei-me escravo da não existência no plano cibernético. Criei ad infinito um rasto de que somente é ou foi. Registro autobiográfico de um corpo cuja alma um dia chorou.
                                                                                                

“Amo aquele cuja alma transborda, a ponto de se esquecer de si mesmo e quanto esteja nele, porque assim todas as coisas se farão para sua ruína.”
³



¹ ² Além do bem e do mal
³ Assim falou Zaratustra



Nietzsche

um breve Adeus



Belo Horizonte, 5 de fevereiro de 2014.

Pai e mãe,



“A felicidade repousa na consciência triunfante de potência e vitória” escreveu Nietzsche.

Sabe, eu acredito nisso. Tenho a consciência de haver reunido o que havia de mais sagrado em mim, meus textos. Manejar uma língua sempre sobre mesmo tema, é um exercício para um louco descabido ou um para dicionarista de sinônimos. Já não caibo em mim mesmo, já não sento a mesa com vocês na hora das refeições, já não consigo escrever. Quando não pude mais dormir aprendi a escrever e escrever já não se sabe se consigo, mim comigo. Tenho pressa. O sol se levanta. Quero ir pra cama. Dormir o sono de um anjo, nas pálpebras caídas de um santo católico que bebeu muita cerveja, não se consegue digno da atenção de alguém que leia. Tenho pressa de ir ao encontro de mim mesmo e não ligo para locuções verbais, como um pára-quedista nas figuras flutuantes de Chagal, o russo. A rainha do céu me chama. Não há nada no chão, onde busquei a mim mesmo. Nenhum pedaço minúsculo de droga que talvez eu haja perdido. que 

linha de pesca

ensinamentos do Buda

Viver é a estrada para a não-dualidade
Porque o não-dual é uno com a
mente confiante

Palavras!
o Caminho está além da linguagem,
pois nele não há
nem ontem,
nem amanhã,
nem hoje.

Osculum


Estou aqui. Atrás dessas palavras a sua frente em frente o PC. Estou aqui ouvindo Lauryn Hill acústico MTV. Estou por aqui. E porque eu deveria escrever essas palavras? Linguagem – sistema estrutural de signos. Uma coisa que está no lugar de outra coisa – idéia. Porque eu devo escrever?
Não há mais nada em mim, senão a coisa em si.
Tentei
parar de escrever não consegui.
Vou romper de repente como um raio numa tempestade. Vou cair do galho no final da tarde. Vou virar semente e viver por toda eternidade. Vou pra casa do caralho ouvir e rir. Não quero mais o sol nascente. Não mais ranger de dentes
, est me free
. Desesperação pra que? A vida é leve a vida. Você gozava suas podres delícias e eu fiquei azedo. Sem voz e sem você. E eu fiquei com medo. I guess I was afraid so afraid.
E eu sem mim se perdeu.
Onde foi?
Onde se meteu?
Sinto, sinto muito...

...please touch me Lord Jesus

teach me




Os livros que li em 2013

lady luly

Ladies in Luluchaca
In el Country of Eldorado

Ula ula hana hana glu glu. Saudades àqueles que já sonham. Também àqueles que não sonham, pois a própria vida é um sonho, indiferentemente. Se pegar no ar algum pensamento ou vibração. Um devir de sonho, como uma onda sonora, que retransmite as notas suaves do Quinteto. O casamento de outras ramas rizomáticas que se perfilam e se cruzam. Alguma coisa que se renova – um novo bulbo. A ponta se ramifica em mil ramas. Mil Ladies glu glu. Alguém ama somebody loves o passado. Retira as farpas, recolhe os cacos. A mistura do calor e da alta umidade em Luluchaca fazia com que as pessoas, partidas ao meio pela linha do Equador, se vestissem menos. Por isso eram obrigados a se exporem mais, E se expunham juntos, à frente, ideias, pequenos ruídos e conflitos. Continha os números sorteados como em um sonho. Era a vida, o próprio esclarecimento. E também o seu próprio dicionário.



veja e ouça