Nem
pilhéria nem paradoxo.
A razão me inspira mais certezas sobre o tema do que, de raiva, poderia um dia
ter um Jeune-France. De resto, os novos são livres para execrar seus
antecessores: estamos em casa e temos tempo.
O romantismo jamais foi bem julgado. Quem o teria julgado? os críticos!! Os
românticos? que provam tão bem que a canção poucas vezes tem a ver com a obra,
isto é, com o pensamento cantado e
compreendido pelo cantor?
Pois
EU é outro.
Se o cobre desperta clarim, não é por sua culpa. Isso me é evidente: assisto à
eclosão de meu pensamento; contemplo-o; escuto-o; faço um movimento com o arco:
a sinfonia faz seu movimento no abismo, ou de um salto surge na cena.
Se os velhos imbecis não houvessem encontrado do Eu apenas a significação
falsa, não teríamos que varrer estes milhões de esqueletos, que há um tempo
infinito, acumularam os produtos de sua inteligência caolha, proclamando-se
autores!
Na Grécia, eu disse, versos e liras ritmam
a Ação. Depois, música e rimas são jogos, passatempos. O estudo desse
passado encanta os curiosos: muitos se divertem renovando essas antiguidades: –
isso é feito para eles. A inteligência universal sempre lançou suas ideias
naturalmente; os homens reuniam uma parte desses frutos do cérebro: agia-se por
eles, escreviam-se livros: essa era a marcha, uma vez que o homem não
trabalhava a si mesmo, não havia ainda despertado, não estava ainda na
plenitude do grande sonho. Funcionários, escritores: autor, criador, poeta,
esse homem nunca existiu!
O primeiro estudo do homem que quer ser poeta é seu próprio conhecimento,
completo; ele busca sua alma, investiga-a, tenta-a, aprende-a. Assim que a
conhece, deve cultivá-la; isso parece simples: em qualquer cérebro se
realiza um desenvolvimento natural; tantos egoístas se proclamam autores; e há outros que
atribuem a si mesmos seu próprio progresso intelectual! – Mas trata-se de
tornar a alma monstruosa: à maneira dos comprachicos, ora!
Imaginem um homem implantando e cultivando verrugas em seu próprio rosto.
Digo
que é preciso ser vidente,
fazer-se vidente.
O
poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e
estudado desregramento de todos
os sentidos.
Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca por si mesmo,
esgota em si todos os venenos, para guardar apenas suas quintessências.
Inefável tortura em que ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana;
em que ele se torna entre todos, o grande doente, o grande criminoso, o grande
maldito, – e o supremo Sábio! – Pois ele chega ao desconhecido! Já que cultivou
sua alma, já rica, mais que qualquer outro! Ele chega ao desconhecido; e
quando, enlouquecido, acabar perdendo a inteligência de suas visões, ele as
viu! Que exploda em seu salto por entre as coisas inauditas e inomináveis:
outros horríveis trabalhadores virão, e começarão pelos horizontes em que o
outro se perdeu!
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