sintaticamente falando





Chega daqui, vou-me nessa. Saio de casa sem rumo.
O mote talvez seja esse cancioneiro francês que, ao fundo, canta um lamento confuso e minguado.
Em casa não consigo mais. Casulo, covil, útero.
Então saio pra a rua e ando pelos becos do mercado a procurar um bom dicionário de rimas, quando eu precisava mesmo era de um editor.
Vejo as pessoas e caminho.
Parábola. Parágrafo. Preâmbulo.
Perambulo.
Vejo as pessoas e todas parecem ter um rumo certo e um destino incerto. Vou flanando, pairando pelo ar como se não tivesse pernas. Como se eu fossem meus olhos. Como se pusesse comer cada cor, cada movimento.
Fico na varanda, último refúgio tridimensional.
Palavras valem a pena, deslizando espontaneamente. Eu me pergunto se deve haver um começo-meio-e-fim, como numa partida de xadrez, nas covas de Guadix, preciso andar impreciso, é dia, logo começam o jantar. Sarava!
devo entardecer?
minha cave me chama. Curupira voltará sem deixar rastros.
meus olhos queimam. Proibido-me de sair à noite por conta das feras.
não vou me prender ao contexto pra remendar o que está fragmentado. Hoje é domingo. ruídos, sons, ecos e pigarro. Impossível descrever a nota do piano do meu pentagrama. indecifrável.
dialética do pensamento débil, inábil calo. Enquanto dentro de mim sentimentos eclodem organicamente como crianças em uma colônia de férias. Uma colônia de bac-feras.
Acho que sou o próprio verme.
um Bakhtin biomorfose

sintaticamente falando



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